«Suspeitas de origem árabe cancelam negociações»

     «Efeitos colaterais» da Guerra em Santo André


O impossível aconteceu. A guerra no Iraque trouxe consequências para Portugal, mais concretamente , para uma empresa sediada em V.N. Santo André. A designação Al Zulej foi confundida com o mundo árabe por clientes internacionais, que cancelaram as negociações.

 

Não é o dia das mentiras, mas contado ninguém acredita!

Uma oficina que produz e comercializa azulejos e diversas peças de cerâmica pintadas à mão está a entrar em "pré-falência" técnica devido a associações do nome Al Zulej com o universo islâmico. "Em Portugal, ainda vai passando, mas nos outros países, ninguém quer nada connosco".

Andrea de Macêdo Ramos é a responsável pelo departamento de Marketing e Comunicação da empresa. Enquanto relata o percurso da Al Zulej, deixa escapar um sorriso, perante a insólita história. Mas o caso não está para graças. Andrea conta que tudo começou com o desejo de internacionalização da actividade, em 2001, pouco tempo depois da formação da sociedade. Os negócios com a América estavam bem encaminhados quando se deu o atentado às Torres Gémeas, a 11 de Setembro. "Logo aí, recebemos como resposta um não redundante".

Em virtude do corte nas relações comerciais, que acabavam de nascer, a empresa achou por bem alterar o logótipo, então representado por uma figura islâmica. Mesmo assim, a solução não foi definitiva. "Chegámos a receber correspondência de origem muçulmana para entrar em contrabando de armas!" Andrea não esconde o seu espanto, partilhado pela mãe, Paula Ramos, responsável pela parte criativa da Al Zulej. A conhecida artista testemunha que "houve alturas em que se vendia bem, e ainda negociámos com vários países europeus. Hoje, está tudo pior e a crise atinge todos".

Ajudada pela guerra, a crise da Al Zulej tem vindo a acentuar-se. "Desde que começou o conflito no Iraque, vieram resposta negativas de países como a Bélgica, dizendo que não querem negociar connosco por motivos religiosos!".

Numa tentativa de clarificar a situação, Andrea inseriu uma explicação etimológica de 'azulejo' no site da empresa, em várias línguas. Diz que mais do que isto não está ao seu alcance e espera que a anotação acerca da derivação da palavra contribua para o esclarecimento dos seus parceiros comerciais.

Para já, a empresa continua a apostar no fabrico manual de cerâmica e azulejos, pintados por Paula Ramos, que aproveita ainda para dar formação a novos valores. Venda de brindes e artigos diversos a empresas e particulares, execução de azulejos para decoração de interiores, restauro e conservação de azulejaria nacional são alguns dos principais vectores da actividade da Al Zulej, afinal bem alentejana.»

Rita Elias, Notícias de Sines - 19 de Abril de 2003


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